Itabira 82 anos depois – No dia 1º de Junho de 1942, o então presidente da República, Getúlio Vargas assinava o decreto criando a Companhia Vale do Rio Doce, empresa estatal que foi responsável pela transformação do Brasil, entregando matéria prima para implantação do tão sonhado parque metalúrgico de Vargas, com seus primórdios em João Monlevade em 1935. A Companhia Vale do Rio Doce é a encampação de duas outras companhias, a Companhias Brasileiras de Mineração e Siderurgia S.A. e Itabira de Mineração S.A.
A transformação que a operação industrial da exploração das minas de Itabira gerou em Minas Gerais e do Espírito, é o legado da política de Getúlio Vargas. Ele discursou diante do encouraçado Minas Gerais, durante a 2ª guerra mundial. O discurso alertou os aliados, que firmaram o “Acordo de Washington”, que tratava das jazidas de minério de ferro, naquele momento de posse de um investidor inglês. Então o governo inglês adquiriu as minas, entregando-as ao estado brasileiro, Cauê e Conceição. Enquanto os EUA suportavam US$14 milhões. Então com 200 mil contos de réis , foi instituída a CVRD. Mais tarde, a região do Vale do Rio Doce ganharia um apelido: Vale do Aço.
As minas de Itabira, Cauê e Conceição eram de propriedade do inglês, Percival Farquar, que para escoar sua produção se associou ao empreendimento que construiria a ferrovia Vitória a Minas, que inicialmente teria como foco o transporte da produção agrícola.
A defesa do patrimônio nacional, da maior reserva de minério de ferro do mundo, conhecida naquele momento, era defendida com garra pelo mineiro, de Viçosa, Arthur Bernardes, o qual foi deputado e presidente da República, ele defendia que as reservas de Itabira fossem exploradas para o desenvolvimento do país e não para atender aos interesses de investidores estrangeiros. Com o decreto de 1º de Junho, Getúlio Vargas seguia a linha de defesa de Arthur Bernardes, que governou de 1922 a 1926, e que viu a Companhia Vale do Rio Doce sendo criada. Ele faleceu em 1955.
O pensamento de Arthur Bernardes não foi lembrado por Fernando Henrique Cardoso, que em 1997 leiloou a empresa por R$ 3 bilhões, se atualizarmos os valores seriam R$ 16 bilhões. Ou seja, a produção anual das minas de Itabira valeriam mais que preço pago pela CVRD. Claro que muitos funcionários compraram ações por R$ 1, pulverizando as ações como apregoava o governo da época. Em Itabira, muitos venderam essas ações a preços que pareciam vantajosos. Os ex-funcionários e funcionários, não foram orientados para terem as ações como uma renda extra, que nunca deixaria de chegar, pois a empresa tem como meta entregar os lucros aos seus acionistas.
Assim, se todos os itabiranos que compraram as ações por R$ 1, tivessem continuado de posse delas, teriam até condições de formar grupo de acionistas com direito a votos na assembleia. 82 anos depois Itabira ainda não aprendeu a utilizar sua força.
Uma rua começa em Itabira
Em “América”, poema publicado no livro “A Rosa do Povo”, Carlos Drummond de Andrade diz: “Uma rua começa em Itabira, que vai dar no meu coração.” Quando o texto foi publicado a cidade se chamava “Presidente Vargas” em homenagem ao governante, pois naquela época a cidade detinha a maior reserva de minério de ferro do mundo.
Uma rua começa em Itabira, e vai dar em qualquer lugar do mundo, é a ferrovia Vitória Minas em seu traçado inicial tinha como objetivo alcançar o campestre, uma planta perfeita enquanto o trem é recarregado, já completa seu retorno.
Empresa que provaria a fatalidade da previsão do poeta. “Itabira é uma fotografia na parede”, Itabira é o pico, chamado assim pelos índios, uma vez que a pedra brilhava, fico imaginando depois de uma chuva de verão como deveria ser bonito a água escorrendo na pedra sob o sol. Deveria brilhar muito mesmo.
As palavras de Drummond deveriam ser o maior incômodo para a gigante estatal que minerando o Cauê sustentou a economia do país dando capital para muitos presidentes governarem. Vários vieram ver o impávido colosso do mais puro minério de ferro,azulzinho! Mas que continha muito ouro.
A Vale só queria o minério, assim exportou milhões de toneladas de minério in natura. Imagino quantos países Itabira ajudou a reconstruir com seu ouro amarelinho, mas ocultado pelo azul da hematita.
A Estrada Férrea chega a Itabira
Conhecendo o traçado da linha férrea que chegaria, a fundadora da Congregação das Religiosas Missionárias de Nossa Senhora das Dores, Madre Maria de Jesus escolheu a rua Santana para instalar o Colégio, uma rua significativa para sua devoção, pois por ali deveriam passar as procissões de sexta-feira da paixão, para alcançar o alto da Rua Santana, onde havia uma igreja de Nossa Senhora da Piedade, do século 18. Ela foi demolida para que a linha fosse instalada. Existem imagens da última missa. Celebrada pelo padre José Lopes dos Santos. Assim como a igreja de Nossa Senhora foi demolida, muitas casas na rua Santana também foram, o período colonial ficava para trás, até mesmo a sede de pau-a-pique do Colégio foi abaixo. Hoje, o Colégio Nossa Senhora das Dores teve espaço para sua expansão e hoje forma um grande conjunto arquitetônico, marcando outro tempo da história itabirana.
Por Marcelino de Castro
Foto destaque: Marcelino de Castro
Fotos: Pico do Cauê/ Getúlio Vargas – Arquivo Nacional